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Sinal amarelo na saúde emocional dos profissionais

Os números relacionados a doenças e transtornos da mente são crescentes e, por isso, preocupantes. Campanhas, como a do setembro amarelo, reforçam a importância de pautar o tema e traçar ações efetivas em diferentes campos, de modo a prevenir o agravamento de alguns quadros e, principalmente, o suicídio. Mas e quando falamos sobre essa realidade na perspectiva do trabalho, qual é o papel dos líderes e das organizações frente aos seus profissionais ?

Alguns dados que compõem esse cenário são: passamos 2/3 da nossa vida trabalhando, vivemos uma epidemia de ansiedade (segundo a Organização Mundial da Saúde - OMS - o Brasil é o país mais ansioso do mundo) e em muitos casos, é o trabalho um dos principais fatores associados aos desequilíbrios emocionais. Olhando por trás dos números, são muitos os prejuízos deixados pelas doenças e transtornos da mente e o impacto na vida profissional é um dos primeiros. Baixa produtividade, conflitos, isolamento, ausência e em muitos casos, até mesmo o abandono da carreira são comportamentos que fazem parte dessa realidade que desafia gestores e companhias.

Para o tratamento adequado no ambiente profissional, desmistificar o tema é o primeiro passo. Questões relacionadas à saúde mental estão cada vez mais presentes em nosso dia a dia, por isso, o tema deve ser encarado de frente pela empresa, pela gestão, assim como pelos profissionais com o quadro clínico. Não é responsabilidade da empresa fazer o diagnóstico, mas trabalhar a prevenção e dar o encaminhamento ágil sim, pois quanto mais cedo o diagnóstico, mais assertivo poderá ser o tratamento.

Com o suporte do RH, a gestão deve traçar estratégias que efetivem a boa cultura na empresa em diferentes aspectos, criando uma relação de confiança, transparência e acolhimento para os profissionais. Entender que a depressão e transtornos são doenças como outras e precisam ser pautadas e tratadas, criar um ambiente para exposição do assunto, campanhas de conscientização, promover palestras e usar as ferramentas de estratégias da empresa, estão entre as ações efetivas, a exemplo da criação de canais de comunicação e parcerias com profissionais da saúde como primeiros suportes ao tema.

Outra medida, que deixou de ser secundária e tem passado para essencial, é a capacitação e desenvolvimento de líderes, uma vez que os profissionais nessa posição são os que mais têm poder de intervir positiva ou negativamente na saúde mental dos profissionais. São muitos os casos em que o quadro clínico estava associado a um tipo de intervenção negativa a partir de um gestor do ambiente profissional. Para evitar esse tipo de ocorrência, desenvolver a inteligência emocional é condição fundamental, pois não há como um líder gerir o outro emocionalmente se ele não consegue desenvolver a sua inteligência emocional em primeiro lugar. Líderes desenvolvidos e emocionalmente inteligentes conseguem ser empáticos, conectando-se com o sentimento do outro.

Cabe ao líder, também, estar atento a algumas mudanças comportamentais dos profissionais da sua equipe. Crises de pânico, desmotivação, baixa produtividade, conflitos com a equipe, atrasos na entrega, podem ser indicativos de estar havendo algum desequilíbrio emocional. Além dos líderes, cabe também aos pares promover acolhimento entre si. Por questão de segurança, prevenção e consciência, se percebo indicativos e algo desse contexto em meu par, também devo oferecer ajuda.

Uma medida diária, que colabora na prevenção do quadro, é reconhecer e expressar a vulnerabilidade que há em cada um de nós, mas que tantas vezes escondemos ao achar que ser vulnerável é sinal de fraqueza. Sermos vulneráveis, ao invés de nos mostrarmos fortes o tempo inteiro, é o que nos conecta aos outros.

E na perspectiva do líder, você pode perguntar: “mas e se os líderes cuidam das esquipes, quem cuida dos líderes ?”. Quanto maior o nível hierárquico e grau de responsabilidade, maior será a solidão desta posição. Se o líder está mais ou menos preparado para lidar com essa realidade, pode vir a ser um fator que impacta nas questões emocionais. Nesse sentido, algo que tem se mostrado preventivo e positivo é o processo de mentoria voltado para gestores e líderes. Por meio de encontros semanais ou com frequência definida, os mentores ajudam líderes, com suporte emocional, psicológico e comportamental, refletindo juntos e para tomadas de decisões importantes na atuação do líder.

No ano em que enfrentamos uma pandemia, estranho seria se os desafios, mudanças e medos específicos que acompanham a chegada do covid-19 ao Brasil, não nos afetasse emocionalmente também. De forma prática, a pandemia mostrou quão indissociável é a relação vida profissional-pessoal e assim há uma necessidade rápida de que empresas, gestores e líderes abram cada vez mais espaço para esse debate, considerando, a saúde emocional dos seus profissionais. 

Estudos como o ‘Relatório Final da Pesquisa Termômetro de Crise’, realizada pela Pulses, com mais de 130 mil profissionais e que mapeou como eles se sentiam em relação ao trabalho sob diferentes aspectos durante quatro meses da pandemia no Brasil, trouxe comprovadamente em seu recorte, o aumento dos níveis de ansiedade e estresse entre os participantes desde o início da pesquisa. Informação que, tanto reforçam um dado que já era previsível, como colabora para que a saúde emocional dos profissionais seja tema prioritário dentro das organizações.